Imparcialidade em demasia
(Victor Lambertucci)
Já é de praxe. Na faixa das oito da noite, milhares de brasileiros voltam as suas atenções para o noticiário de renome na rede televisiva. Sem querer entrar no mérito daquela famosa discussão acerca da licitude da T.V., é preciso ressaltar que qualquer mídia que se dispõe a informar anexará direta ou indiretamente, à informação, subjetividade. Mesmo que em menor ou maior escala.
Mesmo assim, ele - o noticiário de renome - diz-se capaz de ser imparcial, isto é, de não se introspectar em suas divulgações. Na mesma faixa das oito, uma notícia: mulher em trabalho de parto perde o bebê, após maca cair no chão por não ter suportado seu peso. A primeira reação é de choque e indignação. Em sequência, lágrimas. A vítima da negligência do médico, que, segundo a mulher, prevera o incidente sem tomar nenhuma atitude, derrama-se em um choro de dor e sofrimento pela perda do ente que não pode sequer conhecer, sequer enxergar.
Fim da notícia. Aparece na tela o semblante do apresentador também comovido com a situação. Depois disso, muda-se o assunto. Mais dezenas de histórias serão contadas. Tragédias, assassinatos, estupros, atitudes condenadas pela sociedade. E o que resta ao telespectador: indignar-se, engolir o choro, digerir sua revolta. Isso porque se trata de um noticiário imparcial.
Por mais improvável que seja esta realidade, o enunciador deve tentar sim manter-se atrelado aos fatos, deixando que o enunciatário estruture suas próprias conclusões. Entretanto podemos discernir a imparcialidade com que se noticia dado evento da obrigação e o compromisso social, em que o próprio veículo deveria ater-se. Ao invés de nos empanturrar em vão com situações condenáveis, que tenha a mídia o dever de propor iniciativas e soluções. Não que isso desmereça ou retire a ação individual.
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